quinta-feira, 25 de junho de 2015

m/m

 

 

 

                                                    AINDA A GRÉCIA

 

A pretensa superioridade governativa que os contentinhos da situação portuguesa se esfalfam por tentar demonstrar, usando abusivamente a Grécia como exemplo de mau caminho, não revela outra coisa que não seja a sua pequenês.

É evidente que se regozijam que à Grécia seja imposta a razão da força contra a força da razão que assiste aos governantes gregos, não perdendo nenhuma ocasião para se colocarem em bicos de pés.

O estranho conceito de democracia imposto aos gregos, que começou pela pressão obscena sobre a campanha eleitoral, com ameaças claras de que tivessen cuidado com o seu voto, a que se seguiu a intolerável retaliação que temos visto, vem dando da Europa uma imagem bem chocante.

Termino com uma citação do poeta inglês John Donne:

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do Continente, uma parte da Terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um Promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

 

                                                GÓRGIAS

 

 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ESCRAVOS PASSANDO POR HOMENS LIVRES


No belo conto de Óscar Wilde, "Os sonhos do jovem rei", da "Biblioteca
de Verão" JN, o futuro rei tem um sonho no qual se vê numa tecelagem,
em diálogo com o homem que lhe fabricava os trajes que usaria na
coroação, em que o argumentário do operário continua válido hoje,
desmascarando a desfaçatez de muita impostura…


Quando ouve o rei afirmar-lhe que o país é livre e que ele não é
escravo de ninguém, o operário responde que, na guerra, os fortes
submetem os fracos à escravatura; em tempo de paz, os ricos reduzem os
pobres à servidão, pagando salários tão miseráveis que os deixam
morrer.


E enquanto o trabalhador pena, amassando as uvas para outros beberem o
vinho, semeando o trigo mas continuando de arcas vazias, vendo os
filhos enfraquecerem e adoecerem, o rico vai acumulando ouro. Embora
não se vejam, os trabalhadores continuam arrastando grossas correntes,
não sendo mais do que escravos passando por homens livres!


GÓRGIAS
VISTA-SE DE SACO E APRESENTE-SE


Nos primórdios do cristianismo, tocados pelos sérios avisos de
veneráveis profetas, alguns notáveis pecadores decidiam despojar-se da
luxuosa indumentária e vestir-se de saco, procurando assim redimir-se
da indignidade em que viviam; outros, porém, escolhiam cortar a cabeça
aos profetas.


Saída do nefasto alfobre de personagens que tantos malefícios causou
ao país, a figura que agora nos enche os noticiários, acusada de crime
arrepiante, só surpreenderá os distraídos, dada a tendência que há
muito lhe foi detectada e para a qual a política lhe deu a sensação de
invulnerabilidade; só que esta, como à de Aquiles, há sempre um
calcanhar que a trai…


E outros há, da mesma fornada, que continuam a cantar de galo e a
ofender, com a sua facúndia, a nossa inteligência, mas ficando claro
que se sentem como aquele sujeito que, acusado de roubo e perseguido
pela multidão, decide gritar com ela "agarra que é ladrão"!


GÓRGIAS
COMO LIMALHA EM REDOR DO IMAN


O famoso bailarino russo Rudolf Nureyev disse um dia que grande
bailarino não é aquele que executa com elegância o salto mais difícil,
mas o que consegue dar arte ao passo mais vulgar, mas não parece que
haja nos artistas da nossa governação alguém desta craveira.


Já exímio na prática de que a verdade de qualquer declaração política
nada tem a ver com a sua credibilidade e vice-versa, o chefe do
Governo faz por esquecer o que disse num evento da jota do seu
partido, antes das eleições, de que não estivessem a contar com
lugares no aparelho do Estado, porque não iriam imitar o PS .


Sendo sabido que, seja qual for o quadrante, os vencedores de eleições
se vêem rodeados de caçadores de sinecuras como limalha atraída pelo
íman, é de temer que o meio milhar de "bafejados" que o JN nos mostra
seja apenas o início do regabofe que iremos pagar, já que nem três
meses são passados desde que tomaram pose…


GÓRGIAS
TAL QUAL AGÊNCIAS DE NOTAÇÃO


Sendo mais que sabido que o capital não tem pátria, o que me causaria
estranheza, e até desconfiança, seria ver alguém com o perfil do
enfatuado líder desse grupo, que agora se junta àqueles que há muito
se borrifam para nós, fazer algo que pudesse merecer o elogio de
"patriótico", já que não se tem dispensado de, implicitamente, nos
atirar à cara que não precisa de nós para nada, que lá fora é que é
bem recebido e melhor tratado.


Diz-se que o primeiro-ministro não comenta. Pudera! Como se não
estivesse ainda fresco na memória de todos a "elevação" com que este
empresário, figura de pouco interesse mas com grandes interesses,
tratou o então chefe do Governo e, logo de seguida, foi visto
"abrilhantando" um evento promovido pelo actual PM…


Naquela linha de pensamento de que é na desgraça que a gente sabe
verdadeiramente quem é, há quem faça apelo ao brio do cidadão
consumidor, que somos todos, no sentido de passar ao largo das lojas
do grupo em questão. E seria bonito de se ver, se não fôssemos tão
rotineiros, uma demonstração de que o consumidor conhece o real poder
que possui; mas não só isto não é assim tão linear, como os primeiros
prejudicados seriam os trabalhadores. É que estas boas almas usam a
mesma filosofia das agências de notação: se um país, uma instituição,
o que for, já está com água pela barba, dão-lhe na cabeça, para que se
afogue mesmo!


GÓRGIAS
O MUITO DE POUCOS DÁ POUCO…


O rebate de consciência de alguns ricos notáveis, de que não é
admissível continuarem a ser mimados pelos governos, no que aos
impostos diz respeito, vai certamente valer-lhes o ódio de muitos,
mais habituados a fazer exigências do que a colaborar com os
governantes.


Fazendo axioma da frase "o pouco de muitos dá muito; o muito de poucos
dá pouco", muitos capitalistas vivem convencidos de que nada devem à
sociedade, antes pelo contrário, todas as honras lhes são devidas,
mesmo quando não hesitam em semear a fome à sua volta, despedindo a
eito, se alguma conjuntura mais complexa lhes ameaça redução nos
lucros.


Esta casta de patrões treme sempre que ouve falar em justiça social,
porque o que realmente os faz felizes é poder dispor de muitos braços
de espinha dobrada e boina na mão, sempre dóceis para todo o serviço,
mandando às malvas vocações e qualificações…


GÓRGIAS
O MAIOR JUGO SÃO OS IMODERADOS TRIBUTOS


No sermão de Santo António, pregado em 1642, dizia o padre António Vieira:
"A costa de que se havia de formar Eva, tirou-a Deus a Adão dormindo,
para mostrar quão dificultosamente se tira aos homens, e com quanta
suavidade se deve tirar, ainda o que é para seu proveito.


Com tanta suavidade como isto se há-de tirar aos homens o que é
necessário para sua conservação. Se é necessário para conservação da
Pátria, tire-se a carne, tire-se o sangue, tire-se os ossos, que assim
é razão que seja; mas tire-se com tal modo, com tal suavidade, que os
homens não o sintam, nem quase o vejam.


Assim aconteceu aos bem governados vassalos do imperador Teodorico,
dos quais dizia ele: "Eu sei que há tributos, porque vejo as minhas
rendas acrescentadas; vós não sabeis se os há, porque não sentis as
vossas diminuídas" ."


GÓRGIAS