sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ANTÓNIO FEIJÓ

RECORDANDO ANTÓNIO FEIJÓ


Ponte de Lima 1859
Estocolmo 1917

Formado em Direito por Coimbra, exerceu advocacia por algum tempo, até
se virar em definitivo para a carreira diplomática.
Começou pelo Brasil, onde ocupou vários postos e foi admitido sócio da
Academia Brasileira de Letras.
Do Brasil passou para a Suécia, onde se manteve por mais de vinte
anos, tendo sido elevado à categoria de ministro plenipotenciário.
Casou aí com uma sueca, que morreu prematuramente, deixando-o de tal
forma desfeito que pouco tempo lhe sobreviveu.
Uma dezena de anos depois da morte, os seus restos e os da sua mulher
foram transladados para o cemitério de Ponte de Lima.
No túmulo em que descansam pode ler-se esta inscrição:
O amor os juntou e nem a morte os separou.

Nascido no exuberante Minho, amigo da boa comida da região, é fácil
perceber que só o dever e um grande amor puderam segurá-lo tanto tempo
no inóspito clima do Norte da Europa, que descrevia em poemas assim:

Terras do Norte, meu longínquo exílio!
Águas tranquilas, pinheirais, rochedos…
Por estes bosques nunca andou Virgílio,
Nem melros cantam nestes arvoredos…

Terras do Norte, meu longínquo exílio…

Lagos sem fim; desertos sem miragem;
Mares sem ondas na toalha azul;
Nem uma ave de auroreal plumagem,
Nem uma planta que recorde o Sul!

Lagos sem fim, desertos sem miragem…

Longos ocasos de esvaídas cores,
Na paz discreta em que as paisagens morrem,
Nem choram fontes nos jardins sem flores
Nem voam aves nem as águas correm.

Longos ocasos de esvaídas cores…

O azul do céu é desmaiado e frio;
O azul dos olhos sem fulgor latente;
Doira os cabelos este sol de estio
Mas não aquece o coração da gente…

O azul do céu é desmaiado e frio…

CASTELO EM RUINAS
Meu triste coração, como um castelo antigo,
Que a legenda vestiu de espectros e visões,
A lembrança do tempo em que sonhou contigo,
Sustenta-o como a era às velhas construções
Meu triste coração, como um castelo antigo…

De noite, quando o orvalho os lírios humedece,
Como se a lua andasse e os astros a chorar,
Nas sombras da ruína afirmam que aparece
Uma estranha visão de alvura singular,
De noite, quando o orvalho os lírios humedece.

Semelhante à visão que no castelo existe,
Também no coração, rasgado pela dor,
Eu sinto perpassar, no seu sudário triste,
O espectro sepulcral do meu perdido Amor,
Semelhante à visão que no castelo existe…

INVERNO
Noite profunda, noite impossível!
O alvor da neve cobrindo tudo,
Torna o silêncio quase visível…
O alvor da neve cobrindo tudo.
São como espectros
de coisas mortas
As grandes sombras
dos arvoredos…
São como espectros
de coisas mortas,
Lentos, dizendo
graves segredos.
Noite profunda, céu sem estrelas,
Só na minha alma soluça o vento,
Só na minha alma rugem procelas,
Só na minha alma soluça o vento!
E a neve rola
continuamente,
Na sua imensa desolação;
E a neve rola
continuamente,
Mas cai-me toda
no coração.
A noite imensa tudo escurece,
Mas os meus olhos, da terra estranha,
Voam às praias que o sol aquece,
Às praias de oiro que o Tejo banha!
Ó meus
amigos, quando eu morrer
Levai meu
corpo despedaçado,
Para que eu
possa, já sem sofrer,
Dormir na
Morte mais descansado!


Nasci à beira do Rio Lima,
Rio saudoso, todo cristal;
Daí a angústia que me vitima,
Daí deriva todo o meu mal.
É que nas terras
que tenho visto,
Por toda a parte
por onde andei,
Nunca achei nada
mais imprevisto,
Terra mais linda
nunca encontrei.
São águas claras sempre cantando,
Verdes colinas, alvor de areia,
Brancas ermidas, fontes chorando
Na tremulina da lua cheia…
É funda a
mágoa que me exaspera,
Negra a
saudade que me devora…
Anos
inteiros sem primavera,
Manhãs
escuras sem luz de aurora!
Ó meus amigos, quando eu morrer
Levai meu corpo despedaçado,
Para que eu possa, já sem sofrer,
Dormir na Morte mais descansado.
Olhos
daquela que eu estremeço,
Se de tão
longe pudésseis ver-me!
Olhos
divinos que eu nunca esqueço,
Morro de
frio, vinde aquecer-me…
SILÊNCIO
Longos dias sem luz, sem horizontes claros,
Tardes setentrionais dum silêncio sem fim…
E esses olhos do Sul a brilhar como faros,
Mas suspensos do azul, muito longe de mim!
……..

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